Depois de 12 anos a ser tratada de uma depressão major e do distúrbio obsessivo compulsivo, a psiquiatra que me acompanhou durante esses anos aconselhou-me a fazer psicoterapia, onde a palavra era necessária para relatar os factos, o que sentia, o que achava que me tinha levado a tal situação, no fundo a desabafar, ouvir conselhos, para encontrar uma forma de curar. Em mim não resultou este tipo de psicoterapia pois eu nem conseguia identificar as causas ou as raízes mais profundas daquele estado depressivo, nem do distúrbio obsessivo.
Foi quando de novo a psiquiatra, sem querer desistir da minha luta pela cura, me aconselhou a fazer uma nova psicoterapia, mas desta vez utilizando a técnica EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através do Movimento Ocular).
Ao fazer as primeiras sessões, fui estimulada a pensar quando senti essas angústias, medos, comportamentos repetitivos pela primeira vez, o que me transportou a um passado que era tão doloroso, que em princípio não gostaria de tocar. A psicóloga,no fundo, ajudou ao longo das sessões a identificar e a recriar a situação dolorosa e passou a estimular essas recordações difíceis enquanto era aplicada a técnica de mover os olhos, seguindo os seus dedos.
O que ia sentindo é que o cérebro, espontaneamente , se ia afastando da situação dolorosa ao ponto de eu conseguir olha-la de frente e ir questionando os porquês das minhas reacções naquela e em outras situações parecidas na vivência actual. E reformular se valia a pena seguir actuando assim ou abandonar velhas culpas. Com o desenrolar das sessões notava um reprocessamento natural, um modo novo de enfrentar a dor provocada pelas situações que me levavam à angústia, medo, atitudes pouco assertivas e decidir-me a mudar a visão das coisas de um modo menos culpabilizador e mais efectivo.
Era pedida em cada sessão uma avaliação do grau de perturbação e aonde era sentida no meu corpo, essa avaliação foi servindo para avaliar a evolução do tratamento. E o focalizar o que sentia no corpo ajudava a tensão provocada a ser eliminada ao longo da sessão, saindo mais relaxada.
Para mim estava aberta uma nova porta de autoconhecimento, em que não me foi necessário começar por expor o que me envergonhava, humilhava ou me perturbava falar diante de uma terapeuta ou mesmo “diante de mim mesma”. Em silêncio e segundo os movimentos oculares seguindo os dedos da terapeuta, deixei que fluíssem inúmeras lembranças e situações inesperadas que me faziam aos poucos descobrir a razão de determinados comportamentos, angustias e medos. O falar durante a sessão é estimulado quando necessário e respeitado sempre que o paciente o pede ou a psicóloga pressente que é o melhor, o que no meu caso valeu ouro até ser eu já a querer falar. A cada sessão houve o progresso de fazer luto a determinadas situações complexas e o desejo de querer libertar-me dessas situações provocadoras de conflitos e dores interiores.
Foi a terapia que definitivamente me levou em três meses a libertar-me de qualquer medicação para a depressão e para o distúrbio obsessivo compulsivo, que tomava durante 12 anos.
Em pouco tempo fui resolvendo e tomando atitudes mais assertivas, que mudaram por completo o meu modo de estar no mundo, de enfrentar os problemas, de me tornar mais autónoma e confiante, um modo de viver com outra alegria e esperança. Fui desbloqueando o pensamento e consegui adquirir forças, para ser “eu” a solução dos meus problemas. Redescobri-me depois de me libertar de situações dolorosas que permitia que os outros comandassem na minha vida.
Ao longo das sessões de EMDR, fui vendo o “Elefante” que existia dentro de mim e me causava medos, me paralisava e me absorvia por completo. Ao identifica-lo fui sabendo enfrenta-lo e libertar-me dele, sendo eu a comandar e ter nas mãos esse “Elefante”.
Houve momentos difíceis durante as várias sessões de EMDR, como saber lidar com as emoções provocadas pelas imagens que fluem, há mesmo fortes picos emocionais que me levaram a chorar e a cansar-me física e psicologicamente. Nada que não se resolvesse com o relaxamento, e com a presença, confiança e paciência da terapeuta.
No entanto penso que os bons resultados do EMDR foram conseguidos pela persistência, pela vontade de conseguir ultrapassar o cansaço e enfrentar a dor, sessão após sessão até à cura dos sintomas. A confiança com a terapeuta é essencial e muito necessária para orientar as emoções e as reacções provocadas pelo “diálogo” entre as lembranças perturbadoras durante a movimentação ocular. O paciente no fundo é o grande protagonista da sua própria mudança, sendo a psicóloga a grande mediadora entre o nosso querer e o modo como fazer lá chegar e conseguir e ajudar na “digestão “ dessas recordações e memórias dolorosas, em partículas mais pequenas que possam ser libertadas. Não me atreveria a fazer EMDR sem a presença de uma terapeuta de confiança, ela afinal sabe como lidar com a terapia dependendo da reacção do paciente.
Penso que o EMDR me pode continuar a ajudar nas “ surpresas” dolorosas da vida, de forma a conseguir superar os momentos difíceis com mais paz, e uma visão mais acertada, assim como a libertar o melhor potencial que exista em mim. A mim já me fez descobrir capacidades que pensava não ter, ajudou-me a enfrentar grandes medos e a libertar-me de prisões doentias e a ter uma forma de vida sem depressões, obsessões, e com mais vontade de viver e lutar por momentos de felicidade, esperança e alegria.
Carla Almeida