É um tema específico, mas pode bem interessar a todos que têm curiosidade em saber um pouco mais sobre o lado do terapeuta, aquela figura que revela tão pouco de si e que faz mais perguntas do que dá respostas!
Estas são breves considerações retiradas da minha tese de mestrado, defendida, e agora apresentada ao público. Tal como gostei de recolher as influências pessoais e profissionais do psicoterapeuta, presentes em muitos estudos, procuro, com esta exposição, colmatar a curiosidade de outros profissionais e não profissionais e permitir que seja fruto de reflexão.
Alguns factores de influência no desenvolvimento profissional do psicoterapeuta encontrados nos vários estudos são:
- profissionais seniores (supervisores, professores, terapeuta pessoal, mentores);
- colegas: a partilha de conhecimentos (intervisão) e o apoio mútuo;
- pacientes;
- teoria e investigação: livros e revistas, seminários, conferências, investigação, graduações académicas;
- vida pessoal, sobretudo as experiências negativas como a perda, a sensação de incompetência ou a falta de sentido da vida e dos objectivos de vida, servem como aprendizagem para lidar com
- os paciente de modo mais empático;
- reflexão, inclui auto-conhecimento e maturação emocional, o experienciar a própria mudança, de si próprio e do outro;
- estágio, pelo seu cariz desafiante que envolve uma panóplia de emoções intensas que importa gerir;
- supervisão ;
- terapia pessoal;
- condições institucionais e de trabalho;
- maturação cognitiva e epistemológica, flexibilidade de adaptação dos princípios e técnicas à prática real e capacidade de relativizar e criticar os conhecimentos assimilados;
- stress;
- experiência clínica;
- orientação teórica;
- leccionar ou dar supervisão são ambas situações que permitiram estimular a introspecção pessoal e profissional dos especialistas
- percepção insatisfatória do trabalho, a sensação de incompetência, a rotina, a desilusão com a terapia ou perda de empatia com os casos/pacientes são igualmente mencionados
Segundo os resultados apurados, os aspectos pessoal/relacional (reflexão, terapia pessoal) e profissional (supervisão e intervisão, teoria e investigação, experiência clínica) parecem contribuir de forma bem mais preponderante para o desenvolvimento.
Os mais importantes, segundo o estudo prático efectuado com 5 terapeutas, foram a experiência clínica, a teoria e investigação, a supervisão e intervisão e, a reflexão. A semelhantes resultados chegaram outros autores apontando como principais factores, a “experiência de terapia directa com os pacientes”, a “terapia pessoal” e a “supervisão formal”.
A maior parte dos terapeutas do estudo adoptou uma perspectiva positiva do desenvolvimento sendo que o factor negativo mais apontado como influente no desenvolvimento profissional diz respeito às condições de trabalho; a vida pessoal e a experiência com os pacientes vêm ambas em segundo lugar.
A experiência, a supervisão, a reflexão e a formação (que inclui a investigação) seriam os aspectos que deveriam constar desde cedo no currículo destes profissionais; a aprendizagem prática e experiencial através do contacto directo com os pacientes como o elemento mais importante para o desenvolvimento do terapeuta (nos jovens terapeutas a supervisão é ainda mais crucial), sugerindo que a iniciem mesmo antes de terminado o curso; o maximizar da segurança interna do terapeuta e criar um ambiente seguro e protector, diminuindo, paralelamente, o impacto dos elementos stressores na formação do profissional, através da promoção de uma supervisão apoiante ou da monitorização das experiências de trabalho do terapeuta.
Entendendo, também, que a reflexão é um dos factores impulsionadores do desenvolvimento profissional, talvez fosse importante dedicar mais espaços destinados a promove-la, dirigindo-a aos temas promotores de dissonância existencial e epistemológica, orientada por supervisores, ou interagindo com superiores e colegas.