Como pode a hipnose ajudá-lo a perder a fobia de andar de avião?Antes de mais, importa conceder um pouco de tempo a reflectir sobre a diferença entre medo e fobia.
É normal o receio de voar, sobretudo se essa actividade for algo esporádica nas nossas vidas, é normal ficarmos perturbados se alguma vez experienciarmos uma situação de medo (seja ela qual for) e resistirmos a voltar a experimentá-la, é também normal apreendermos os medos dos outros pela negatividade e temor com que nos são apresentados.
Contudo, tal não reflecte uma fobia. O que é então uma fobia? Irracionalidade do medo (pese embora a consciência, por vezes, de que tais pensamentos são descabidos), medo extremo, evitamento, interferência no funcionamento diário da pessoa (neste caso pode interferir com o aspecto profissional, ao rejeitar determinado trabalho por ter de deslocar-se de avião) são alguns dos aspectos que a caracterizam.
Seja qual for o caso, medo ou fobia, não são sempre iguais nem vividos da mesma forma. Concretizando, há quem tema estar no ar, há quem tema aterrar ou descolar, há quem tema somente as turbulências ou os aviões de pouco porte. Por outro lado, há quem controle recorrendo à respiração, meditação ou conversa, há quem não controle e evite andar de avião, há também aqueles que mesmo com medo enfrentam e sentem uma panóplia de sensações físicas, emocionais e cognitivas, entre elas, a falta de ar, a aceleração do batimento cardíaco, a sudação intensa, o medo, o pânico, a vergonha, a impotência, a catastrofização ao pensar que “vai morrer” antes mesmo de entrar no avião.
Se há quem tenha passado por experiências traumáticas, há quem tenha somente má informação e “más companhias” que relatam o mais dramático dos casos!A terapêutica mais “comercializada” no tratamento destas situações implica confrontação real da pessoa com o objecto/situação temida (exposição in vivo) de forma gradual e hierárquica, tendo-se anteriormente preparado a pessoa, sobretudo, cognitivamente, para enfrentar o medo.
A hipnose, como técnica terapêutica, pode ser uma ajuda viável no desbloqueamento destas memórias ou, simplesmente, das ideias e sentimentos. Como?Como estratégia para lidar com as manifestações físicas e ansiedade, lidar com os pensamentos inadaptados, lidar com o medo do medo (medo das emoções/reacções), resolver a situação traumática que pode estar subjacente. A importância do ensino da auto-hipnose para a própria pessoa aprender a relaxar e a reorganizar sentimentos, pensamentos e comportamentos não é desmedida se tivermos em conta que a maior parte do stress e do medo vivido está relacionado com a própria interpretação que a pessoa faz das situações. Neste sentido, a hipnose pode facilitar e agilizar a mudança de perspectiva e consequente resposta ao problema.Realço que a hipnose trata-se de um fenómeno natural que permite uma melhor comunicação com a parte inconsciente do nosso ser, facilitando a ponte entre o corpo e a mente. É um estado de consciência diferente do estado de consciência ordinário, através do qual se podem produzir alterações na emoção, na sensação, na imagem e no tempo. Antes de qualquer intervenção é crucial partilhar informação sobre esta terapia e corrigir crenças erróneas sobre a mesma, alertando para aspectos como: o paciente tem controlo sobre o que se passa e não irá ficar submetido a nenhum poder, incluindo o do terapeuta; a hipnose clínica pode facilitar o receber sugestões para lidar com ansiedade e fobia mas implica envolvimento da pessoa e o querer aceitar essas sugestões.
Por fim, exponho uma ideia de Kirsch que traduz bem a utilidade da hipnose para “ajudar a cabeça a convencer o coração sobre o que a primeira sabe que é verdadeiro”.