Algo muito típico dos pedidos das pessoas que recorrem à psicoterapia é o próprio pedido: “Queria mudar MUITA coisa”.
Normalmente a lista é grande e depositada com a esperança de que o mero acto de ter transmitido os seus desejos ao terapeuta, seja o passar da “batata quente”.
Julgo que ainda que conscientes (ou talvez não muito) que a terapia pode ajudá-los a ajudar-SE, vêm com a expectativa que o TERAPEUTA os consiga modificar, a HIPNOSE os consiga modificar ou qualquer outra técnica. Imagino essa grande expectativa como se entrassem dentro de uma Máquina de Mudança, colocassem os desejos de transformação e em POUCAS consultas estivessem modificados.
Estaria a desmentir-me e a descredibilizar-me se não confiasse na capacidade de mudança do ser humano ou no poder da psicoterapia para poder ACTIVAR e IMPULSIONAR essa mudança (umas vezes rápida, outras nem tanto). Mas é preciso mais do que querer e, sobretudo, é preciso recordar que psicoterapia não é magia.
Apesar de ser apologista e confiante em técnicas e abordagens que me parecem mais eficazes e mais rápidas para DETERMINADOS CASOS e PACIENTES, estas não resultam sempre, nem tão bem, por variadíssimas razões.
Aponto algumas. A primeira parece-me muito evidente: tem a ver com a RELAÇÃO estabelecida com a pessoa que nos consulta. Mais uma vez coloco-me do outro lado do prisma e não é difícil de imaginar que se for à procura de apoio, espero encontrar alguém que me oiça, me dê suporte, motivação e esperança, enfim, que seja o meu porto seguro, para poder despir-me dos problemas e sentir que tenho força para os ultrapassar. Ora, sendo esta a regra de ouro para qualquer profissional de saúde e, sobretudo (porque segura desse requisito), para todo o psicólogo/psicoterapeuta, nem sempre é fácil de o atingir.
Outras razões prendem-se com as próprias EXPECTATIVAS da pessoa em relação à terapia, ao terapeuta, às técnicas e abordagens escolhidas e à mudança que espera alcançar. Como exemplo, 10 sessões de terapia podem demorar 3 meses, 6 ou ainda mais (de acordo com o espaçamento entre sessões) e compreende-se que durante todo esse tempo se possa desmotivar, desistir e alterar os objectivos de mudança (sem esquecer que se pode melhorar!).
Não querendo desmoralizar possíveis interessados, apenas procuro informar sobre possíveis obstáculos ao processo terapêutico para que quem venha, chegue mais esclarecido.
Óbvio que talvez não precise tanto de referir as sensações de ALÍVIO e de BEM-ESTAR por ter desabafado, reformulado ou ultrapassado o problema. A sensação pode ser semelhante ao descarregar de todas as pedras que transportava às costas, adicionando-lhe novas botas, comida e água fresca e, muita motivação para continuar a viagem.